FUVEST 2007 – Questão 65

Linguagens / Português / Língua e Funções / Língua
  Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra no último “Quarto de Badulaques”. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” do verbo “varrer”. De fato, tratava-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação.
Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário (...). O certo é “varrição”, e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim, porque nunca os ouvi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário (...). Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção”, quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado.
Rubem Alves
http://rubemalves.uol.com.br/quartodebadulaques
 
Ao manifestar-se quanto ao que seja “correto” ou “incorreto” no uso da língua portuguesa, o autor revela sua preocupação em
a) atender ao padrão culto, em “fi-lo”, e ao registro informal, em “varrição”.
b) corrigir formas condenáveis, como no caso de “barreção”, em vez de “varreção”.
c) valer-se o tempo todo de um registro informal, de que é exemplo a expressão “missivas eruditas”.
d) ponderar sobre a validade de diferentes usos da língua, em diferentes contextos.
e) negar que costume cometer deslizes quanto à grafia dos vocábulos.
Esta questão recebeu 1 comentário

Veja outras questões semelhantes:

FUVEST 2015 – Questão 69
Quando começaram a ser produzidos em larga escala, em meados do século XX, objetos de plásticos eram considerados substitutos de qualidade inferior para objetos feitos de outros materiais. Com o tempo, essa concepção mudou bastante. Por exemplo,...
UNESP (julho) 2012 – Questão 6
A leitura atenta deste poema do livro "Marília de Dirceu" revela que o eu lírico: a) sente total desânimo perante a existência e os sentimentos. b) aceita com resignação a velhice e a morte amenizadas pelo amor. c) está em crise existencial e não acredita na durabilidade do amor. d) protesta ao Criador pela precariedade da existência humana. e) não aceita de nenhum modo o envelhecimento e prefere morrer ainda jovem.
FUVEST (2ºdia) 2002 – Questão 8
...
UFSCar - Por e Ing 2008 – Questão 16
Os resultados da pesquisa indicam que: ...
ENEM Ling (91-135) e Mat (136-180) 2010 – Questão 107
Carnavália ...