A análise psicológica das personagens frente a precariedade da condição humana se constitui em importante foco da obra machadiana. Observe o trecho a seguir, extraído do conto "Um homem célebre".
Começou a obra; empregou tudo, arrojo, paciência, meditação, e até os caprichos do acaso, como fizera outrora, imitando Mozart. Releu e estudou o Requiem desse autor. Passaram-se semanas e meses. A obra, célebre a princípio, afrouxou o andar. Pestana tinha altos e baixos. Ora achava-a incompleta, não lhe se sentia a alma sacra, nem ideia, nem inspiração, nem método; ora elevava-se-lhe o coração e trabalhava com vigor. Oito meses, nove, dez, onze, e o Requiem não estava concluído. Redobrou de esforços; esqueceu lições e amizades. Tinha refeito muitas vezes a obra; mas agora queria concluí-la, fosse como fosse. Quinze dias, oito, cinco... A aurora do aniversário veio achá-lo trabalhando.
Contentou-se da missa rezada e simples, para ele só. Não se pode dizer se todas as lágrimas que lhe vieram sorrateiramente aos olhos foram do marido, ou se algumas eram do compositor. Certo é que nunca mais tornou ao Requiem.
É pertinente afirmar que:
I. a fama de Pestana, em seu intimo, é ilícita, pois ele ansiava pela composição de uma obra de arte musical, não de simples polcas que, mesmo tornando-se sucessos, não eram criações complexas como as dos compositores a que ele adorava.
II. uma das temáticas recorrentes na obra machadiana é a base desse conto: o ideal de perfeição, articulado ao impasse íntimo decorrente da oposição entre essência e aparência, que também está presente no conto “O espelho”.
III. a busca da perfeição, nesse conto, explicita-se tanto no intento e afinco com que Pestana se dedica ao Requiem, como nas lágrimas derramadas na missa da falecida esposa.
Está(ão) correta(s):