UNESP 2012 – Questão 20

Linguagens / Português / Classes Gramaticais / Pronome
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando, então, os textos são apresentados como uma aplicação da língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler: “O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.” Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente dado pela própria existência humana. Todas as grandes obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos” são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende se tornará não um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios? E, de imediato: que melhor preparação pode haver para todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas, tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja, ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras que ajudam a viver melhor.
Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.
Considerando que o pronome o, usado na sequência que o deve conduzir, tem valor anafórico, isto é, faz referência a um termo já enunciado no último parágrafo, identifique esse termo.
a) Ensino literário.
b) Professores de Letras.
c) Acordo.
d) Espírito.
e) Grande diálogo.
Esta questão recebeu 1 comentário

Veja outras questões semelhantes:

UNESP (julho) 2009 – Questão 60
Embora a crise já estivesse se manifestando quando o general Geisel tomou posse, o seu plano econômico [II Plano Nacional de Desenvolvimento] continuava mantendo as mesmas expectativas dos anos anteriores: altas taxas de crescimento econômico e...
ENEM 2ªAplicação Linguagens e Matemática 2009 – Questão 113
Terça-feira, 30 de maio de 1893.  ...
UNESP (julho) 2005 – Questão 27
Dentre as fontes naturais de energia, existem as que são renováveis e as que não o são. Fazem parte da categoria não renovável as seguintes fontes: a) urânio, gás natural, petróleo e carvão mineral. b) petróleo, água, urânio e lixo orgânico. c) gás natural, carvão mineral, gêiser e maré. d) lixo industrial, petróleo, urânio e vulcão. e) gêiser, maré, vulcão e madeira.
UNESP 2017 – Questão 1
Na crônica, João Alves é descrito como a) rústico e mesquinho. b) calculista e interesseiro. c) generoso e precipitado. d) sensato e meticuloso. e) ingênuo e conformado.
ENEM 1ºAplicação - Linguagens e Humanas 2017 – Questão 44
O homem disse, Está a chover, e depois. Quem é você..Mão sou daqui. Anda à procura de comida. Sim. há quatro dias que não comemos. E como sabe que são quatro dias. E um cálculo. Está sozinha. Estou com o meu marido e uns companheiros....